A austeridade é a nossa penitência


Hoje vi, na RTP-N, um daqueles programas do género fórum TSF, em que um padre convidado (do qual não me recordo o nome) a comentava as medidas de austeridade, nomeadamente os aumentos do IVA na electricidade e no gás. O padre dizia qualquer coisa como:

Não vale a pena protestar; Ninguém protestou, nem os sindicatos nem ninguém quando vivíamos acima das nossas possibilidades, por isso agora temos de aceitar porque não há outra saída; Não vale a pena ir atrás dos ricos porque eles mandam o dinheiro para a Suíça.

É triste verificar que a Igreja Católica mais uma vez vai buscar a sua veia salazarista e manda o povo comer e calar. Neste caso, ser roubado e calar. Para quem se diz defensor dos pobres e dos oprimidos são muito rápidos a virar-lhes as costas. Mas esta atitude é bastante coerente com o discurso dominante do “viver acima das nossas possibilidades”. Viver acima das nossas possibilidades é um eufemismo para o pecado, nas católicas mentes conservadoras. Nessas mesmas mentes o pecado só pode ser perdoado com a penitência, apresentada ao povo como austeridade inevitável. Séculos de catolicismo impregnaram nas mentes dos portugueses as noções de pecado e penitência. Talvez seja essa uma das razões para as diferenças de aceitação da austeridade entre gregos e portugueses.

É preciso lembrar que nunca foram penitência, a oração ou a santa missa que trouxeram avanços à humanidade. As grandes conquistas sociais da humanidade fizeram-se com lutas, com protestos, com revoluções. Se nos limitássemos a rezar e calar ainda viveríamos numa sociedade feudal.

Resta saber até quando é que vamos comer e calar. Numa altura em que já se decidiram medidas adicionais de austeridade no próximo ano, duvido que não cheguemos a um ponto em que os portugueses concluam que chega de padre-nossos e avé-marias.

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2 comentários a “A austeridade é a nossa penitência”

  1. Mas quando essa portugalidade autoctone comeca a ser um empecilho as nossas possibilidades de desenvolvimento como Nacao entao tudo muda…Nao esperemos acender uma vela a todos os santos a ver se nos mandam um messias…Nos temos que mudar.

  2. Essa portugalidade infelizmente está mais enraizada do que nós próprios nos apercebemos. E pior, é transmitida incessantemente nos media tradicionais.

    Se não mudarmos e se não fizermos por mudar os outros dificilmente as coisas irão alterar-se.

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