Um governo cobarde


Pior do que viver num clima de guerra, numa economia de guerra, é estar numa guerra em que quase todos aqueles que estão do teu lado do campo de batalha nem sabem que estão em guerra. As bombas que lhes caem em cima e lhes destroem a vida são vistas como inevitáveis catástrofes (quase) naturais contra as quais nada podemos e, no fundo, até merecemos. É essa a sensação de viver em 2011 em Portugal.

O governo que os portugueses elegeram, iludidos por um rol de mentiras e por um ódio quase irracional a outro embaixador do poder económico e financeiro disfarçado de social-democrata da terceira via, é ele próprio um ideólogo desta guerra, para deleite das elites económica e financeira e da troika que nem precisam de sujar as mãos para levar por diante a sua agenda, a política dos credores.

Mas este governo é cobarde. Cobarde porque esconde-se atrás da cortina da tecnocracia e do discurso da inevitabilidade para não admitir o seu verdadeiro objectivo, o modelo de sociedade que realmente quer construir, a vida que quer para os portugueses. Este governo nunca colocou em pratos limpos o seu verdadeiro programa de governo e governa em plena mentira, tendo como bengala permanente a inevitável crise.

Hoje é quase crime falar de ideologia, o que interessa são os números. O que não nos dizem é que os números podem ser lidos das mais diversas formas, consoante o prisma em que são encarados. No entanto, apenas  a visão neoliberal e moralista é tida como verdadeira e possível. Todas as outras são consideradas utópicas, irreais, irresponsáveis. O caminho neoliberal moralista da austeridade é inevitável.

Inevitável é a morte.

Não sou capaz de reconhecer, como meu, um governo que se dedica a destruir quase tudo o que foi construído em 30 anos de democracia, passando por cima de contratos sociais, da constituição, e protegendosempre o mesmo lado da trincheira. Pergunto-me qual é o objectivo dos sacrifícios em cima de sacrifícios em nome do suposto pagamento de uma dívida se no final o único horizonte que nos é dado é o aumento dessa mesma dívida? Se o governo que foi mandatado pelos portugueses para governar em nome destes tem as mesmas posições e parece concordar em tudo com os nossos credores, que, obviamente, apenas querem que paguemos o que devemos e que peçamos mais emprestado, de preferência a curto prazo e a juros acima de 5%, o que devemos dizer? Este governo não nos serve, não nos defende, não nos representa, governa a coberto de mentiras e falsa moral em nome de uma ideologia que recusa reconhecer.


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