Falésia da praia da Ribeira Quente de novo capa do Açoriano Oriental


Hoje o AO faz manchete com a praia da Ribeira Quente e as obras da falésia sobranceira à praia.

Desta vez o problema são as obras, mais concretamente os detritos das obras, que estão a ser descarregados no mar. A denúncia é dos Amigos dos Açores. O Director Regional dos Assuntos do Mar justifica a acção dizendo que

(…) os materiais depositados no areal traduzem-se nos “mesmos materiais que constituem a fonte de alimentação natural da Praia do Fogo”.

Os Amigos dos Açores afirmam que

O desprendimento de materiais da arriba em direcção ao mar acontece ao longo de vários anos. Sem paralelo, portanto, com o que está a acontecer agora, em que esse processo tem sido acelerado e, na sua sequência, sido colocadas no  extremo ocidental da praia quantidades enormes de terra e areia. Uma situação que, em seu entender, pode interferir com a “dinâmica” do local e até “limitar” o areal.

Concordo com esta análise e acrescento o seguinte: Dizer que os materiais que estão a ser depositados na praia são os mesmos materiais que alimentam é redutor e demonstra desconhecimento local ou é uma tentativa de amenizar o que é um erro grave. O areal da praia da Ribeira Quente não é constituído apenas por, ou sequer, maioritariamente pedra-pomes e solo, materiais que formam a arriba da praia. É constituída principalmente por areia, como é óbvio! Sim, existe muita pedra-pomes na praia, sempre existiu mas essa concentração agravou-se depois da tempestade de 1997 que trouxe para a praia toneladas de detritos da arriba e dos terrenos a Norte. A areia ficou mais clara, dada a menor concentração de areia e aumento da concentração de pedra-pomes e solo. No entanto, nos últimos anos, a quantidade de pedra-pomes tem vindo a diminuir, em consequência das tempestades e das marés que a pouco e pouco têm vindo a trazer nova areia e têm “limpo” a areia que lá está.

O que se está a fazer é colocar novamente pedra-pomes e terra no areal em quantidades que poderão ser iguais ou superiores à tempestade de 1997. Ninguém pode negar que isso terá consequências negativas para o areal que poderá ficar novamente em péssimas condições durante anos.

Não questiono a importância da obra em questão, sempre defendi que aquela falésia necessitava, há décadas, de estabilização. Mas os empreiteiros, e principalmente o dono da obra, têm de ter em conta as consequências ambientais de uma obra numa praia. Não estamos a falar de estabilizar um talude de uma estrada, como se fez no Pisão.

Como não tenho memória curta, devo lembrar também uma notícia do ano passado em que denunciei aqui no blog a obra ilegal que se fez numa tentativa de salvar uma casa construída nos anos 90 na mesma arriba. O mesmo Director Regional afirmou na altura que” trata-se de uma obra de engenharia natural para fortalecer o talude, promovendo o enraizamento de espécies naturais, com a ajuda de sacos de areia, madeiras e pedra que serão depois retirados.”

A casa já não existe, foi demolida já que as obras de estabilização reduziram o declive do talude, entrando pelos terrenos da arriba adentro. Gostava de perceber porque autorizou na altura uma obra ilegal de “engenharia natural” para salvar uma casa que menos de ano depois viria a ser demolida por uma obra que já tinha o projecto concluído há altura.

Aqui fica uma fotografia da praia há algumas semanas.


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