Mudar de rumo o quanto antes


Os números frios não retratam minimamente o sofrimento e a desesperança que grassam em Portugal, em cada cidade, em cada casa onde o desemprego chegou. 16,9% de desempregados que são fruto da recessão de 3,2% em 2012 que este governo nos mergulhou. Um pesadelo que poucos julgavam ser possível.

Pouco a pouco, os números deixaram de surpreender e passaram a estar nas previsões da grande maioria dos portugueses, daqueles que vivem no país real, que sentem os problemas do quotidiano, que falam com colegas, amigos e familiares e sabem que a vida está, a cada dia, mais difícil para todos (ou quase todos). A subida contínua dos números do desemprego durante este ano começa a tornar-se uma hipótese cada vez mais plausível. Com estas políticas parece ser inevitável. A julgar pelo que se passa em outros países em dificuldades, Espanha e Grécia, ainda estamos relativamente longe de atingir um ponto de ruptura, pensará o governo. E, no entanto, ainda este mês o primeiro ministro afirmava que Portugal está no “bom caminho”.

Qual o nível de empobrecimento, de destruição de emprego, de devastação da economia e de redução dos serviços públicos a que estamos dispostos a que o governo e a troika nos levem? Para muita gente, na qual eu me incluo, esse nível já foi há muito ultrapassado, aliás, o processo de empobrecimento da generalidade da população, a que se chamou de austeridade, nunca deveria ter sido iniciado. Processo este que, recordemos, teve a sua origem muito antes de PSD e CDS terem constituído governo, ainda no tempo do governo PS de José Sócrates. Haverá, com certeza, muita gente disposta a continuar por mais algum tempo neste túnel sem luz ao fundo na esperança de, perdendo um pouco do que tem, possa manter o essencial. O problema reside em abdicar de cada vez mais e manter muito pouco.

No entanto, quando o governo cair (ou, para os crentes, o mandato terminar), para além de termos um país incomparavelmente mais pobre, com mais de um milhão de desempregados e uma economia a cair mais de 3% ao ano, esse será apenas um pequeno (mas importante) passo para uma mudança real. Não basta demitir o governo, é preciso não deixar que o poder continue nas mãos da troika e dos partidos que assinaram o memorando de entendimento. Não podemos substituir a raposa pelo lobo, mandar embora o lobo e substituí-lo novamente pela raposa. Deixar o PS governar novamente sob a batuta da troika é deixar tudo na mesma, mudar os protagonistas e manter o mesmo guião. Nada mudará.

Uma verdadeira mudança de políticas implica, necessariamente, a denúncia do memorando da troika, uma auditoria à dívida e a sua renegociação com os credores. Mas esse será apenas o segundo passo. A partir daqui abrem-se muitos caminhos, caminhos que precisam ser explicados, analisados e debatidos. Apesar de todas as incertezas e dificuldades, teremos nessa altura novos caminhos para seguir e verdadeiras alternativas, ao contrário do estreito e escuro túnel da inevitabilidade por onde nos fazem caminhar.

Artigo publicado do site regional do Bloco de Esquerda/Açores.

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