Música sem limites com Dave Mathews Band


image20151011_202116418 Perdi a conta aos anos que esperei para ver um concerto ao vivo de Dave Mathews Band (DMB). Quando descobri os primeiros discos da banda e, aos poucos, o som, as melodias, as letras foram-se entranhando, nasceu também o desejo de os ver actuar ao vivo. A tal desejo não são alheios os grandes discos ao vivos (Live Trax) da banda.

O som de DMB, mescla de vários estilos, é estranho para quem ouve a primeira vez mas é mesmo essa mistura indefinível de rock, folk, jazz fusion, que acaba por nos surpreender, prender e nos faz sonhar com um concerto ao vivo para ver e ouvir de perto como se faz aquele som.

DMB não é uma banda fácil de encontrar na Europa. Muito menos em Portugal: apenas dois concertos, o último dos quais em 2009, no Optimus Alive. As suas longas digressões de Verão percorrem os EUA de costa-a-costa mas poucas vezes atravessam o Atlântico. No início deste ano, chegou o anúncio e nem pensamos duas vezes: marcar a viagem e comprar os bilhetes, era desta que íamos ver DMB! 11 de Outubro de 2015! Para os ilhéus tal decisão não é fácil nem barata mas era uma oportunidade única, ainda por cima numa altura em que a banda tem deslumbrado com os seus concertos com dois sets, um acústico e outro eléctrico, e conta com o virtuoso Tim Reynolds na guitarra.

Num dia de Outono em Lisboa, com um tempo que mais parecia ter vindo connosco dos Açores, chegamos ao Pavilhão Atlântico (sim, sei que o chamam outra coisa agora mas para mim continua a ser o Atlântico). Bem perto do palco, esperamos 1:30h juntamente com milhares de pessoas.

A banda subiu ao palco pelas 20:15, discretamente, mas isso não os livrou de uma grande ovação e o entusiasmo cresceu quando se ouviram os primeiros acordes de “Wharehouse”. DMB começou de imediato a conquistar a multidão com a energia, vida, e brilhantismo musical que todos esperavam.

DMB pode ter o nome do seu vocalista, principal compositor e letrista mas funciona mais como colectivo do que a maior parte das bandas. Dave Mathews tem inquestionavelmente um talento invulgar na composição ,uma voz versátil e uma forma única de tocar a sua omnipresente guitarra acústica. Mas é a banda que, no seu conjunto, fornece uma dimensão sonora inigualável aos temas.

Foi claro desde o início do concerto ao que estes músicos vinham: entrega total, grande profissionalismo, boa disposição, técnica irrepreensível e muita, muita alma. Um público atento e participativo. Tudo para um grande espectáculo. De ambos os lados do palco.

Num concerto com esta qualidade é difícil destacar músicas para além do gosto pessoal ou maior identificação com este ou aquele tema. Prefiro destacar momentos. Dave Mathews não falou muito durante o concerto mas também não era fácil: cada aproximação ao microfone correspondia a uma ovação e a muitos gritos na plateia. O primeiro set foi bastante forte, com temas ritmados e um inédito “Black and Blue Bird” que me pareceu promissor. Continuou em crescendo e teve, para mim, um dos seus momentos altos quando o baixista Stefan Lessard começou a tocar os acordes de “Crush” captando a atenção da sala que depois entrou em êxtase quando ouviu a inconfundível linha de baixo. “Crush” esmagou a sala.

12115831_1041641172533830_5960925463464114080_n

Depois disso “Satellite” e “Grey Street” fecharam o set e esta última levou o público a entoar, em uníssono, a música com as luzes do palco desligadas e todos os músicos ausentes para o intervalo. Excepto um. Carter Beauford, baterista que enche de ritmo os concerto de DMB, sorridente como sempre, estava definitivamente a gostar da interacção com o público e deixou-se ficar mais um pouco a dar-nos ritmo enquanto cantávamos. Irónico que um tema com um poema tão pesado possa ter causado este efeito. Carter, depois, divertiu-se a oferecer baquetas ao público.

Intervalo. Dave mandou-nos ir beber uma cerveja mas poucas pessoas o fizeram. Era uma verdadeira aventura que, ainda por cima, podia deitar a perder o precioso lugar a 10 metros do palco.

O segundo set começou com Dave Mathews a solo ao piano e depois com Tim Reynolds que brilhou na guitarra com “Bartender”. Regressada toda a banda ao palco, encaminhávamos-nos para uma cavalgada rítmica de mais 12 longos temas, com longos e fantásticos solos da “secção de metais”. Sei que há quem não aprecie os intermináveis solos de DMB ao vivo. Mas estes não são solos quaisquer e não são apenas uma demonstração de técnica e profissionalismo: são tocados com muita entrega. Isso faz toda a diferença. Ninguém pode negar que existe uma vontade genuína daqueles músicos em passar aquelas horas com os colegas de banda e todos aqueles milhares de pessoas que os foram ver da melhor forma possível. E a melhor forma que sabem é assim. E ainda bem.

E o concerto avançou com grandes solos de Jeff Coffin no(s) Saxofone(s) e de Rashawn Ross no(s) trompete(s) – às vezes 2 trompetes em simultâneo – e os duetos de Boyd Tinsley (violino) com Dave Mathews que “dançavam” pelo palco enquanto se desafiavam musicalmente.

“Don’t drink the water”, “Jimmy Thing”, “#41”, “If only”, entre tantas outras, preencheram a sala e o peito a quem soube aproveitar aquela maratona musical irrepetiível.

O concerto terminou com “Rapunzel” mas o Atlântico não os deixaria ir embora assim tão facilmente. Palmas, cânticos, e, inesperadamente a, sala encheu-se de pequenas estrelas: finalmente uma utilização para a lanterna do telemóvel! Foi ao som de “E salta Dave, e salta Dave, Olé” que a banda regressou ao palco. Dave não saltou mas Carter, escondido atrás da bateria sacou do telemóvel e tirou uma foto ao estrelado Pavilhão Atlântico. Tivemos o merecido encore tocado com a mesma garra com que começaram 4 horas antes. “Ants Marching” para felicidade de milhares. 4 horas inesquecíveis, obrigado! E dissemos “até um dia” a Dave Mathews Band.

 

,