Trump, a normalização e os trumpistas


Após a vitória de Donald Trump nas eleições presidencias norte-americanas de novembro de 2016, para além da estupefação, rapidamente se assistiu a um processo de secundarização do seu discurso racista, xenófebo, misógeno, belicista e nacionalista. Paradoxalmente, não foi nos EUA que esse processo foi mais evidente. Desde o dia seguinte à eleição que foram muitos os protestos anti-Trump nos EUA que continuaram até à tomada de posse e após esta. Os media norte-americanos de pendor liberal estão em guerra aberta com Donald Trump. Perderam a batalha da eleição mas parecem não ter aprendido nada com essa derrota pois continuam a ter como estratégia o confronto aberto e altamente parcial, o que pode ter um efeito perverso, uma vez que fornece argumentos a Trump e aos seus seguidores para tentarem descredibilizar os próprios media que o atacam.

Ainda assim, há sectores da população e media norte-americanos que procuram relativizar e normalizar o discurso e as primeiras ordens executivas de Trump que se começam a conhecer.

Em Portugal, para além de uma grande maioria que repudia Trump, há na opinião publicada uma clara corrente que procura dar um toque de normalidade a Trump e ao seu discurso. No entanto, à medida que Trump passar das palavras aos atos penso que se tornará cada vez mais difícil a sua defesa. Ainda assim, a direita mais conservadora servir-se-á do peso do poder de Trump para normalizar também o seu próprio conservadorismo.

Mas se a normalização de Trump faz-se pela via da transmissão de ideias, ela também é feita pelo próprio Estado, pelas vias diplomáticas. É certo que as relações entre Estados vão para além das relações entre governos que, em democracia são, por definição, temporários e sujeitos a mudanças. No entanto, é óbvio que há linhas que não devem ser ultrapassadas e não é de todo aceitável que se ignore o elefante na sala apenas com o objetivo de tentar preservar um determinado status quo ou de modo a obter algum proveito económico.

De facto, os sinais que nos chegam das mais altas instâncias do Estado português vão no sentido de continuar com o business as usual, tornando Trump o novo normal, apenas mais um inquilino da Casa Branca: desde o Presidente da República, que telefona a Trump e lhe dá uma pequena lição de história, como quem quer mostrar que somos velhos amigos e que estamos aqui no Atlântico, passando pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Santos Silva, que acha que Trump pode dar “novas condições” às Lajes.

Para além de normalizadores de Trump, há entusiastas de Trump que, mais do que regressar ao business as usual, esfregam as mãos de contentes com a perspetiva de novos conflitos que lhes permitem sonhar com o regresso a um passado em que as Lajes eram mais do que uma bomba de gasolina dos EUA. Sonham com uma nova centralidade baseada em Trump, na sua política externa e nos seus apoiantes lusodescendentes que tornem as Lajes Great Again, mesmo se para isso a morte e a destruição seja o preço a pagar, por outros, pois claro.

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