Os resultados dos exames nacionais transformados em perniciosos rankings pela imprensa, em nada contribuem para uma avaliação das escolas.
Os rankings e os próprios resultados dos exames nacionais retratam apenas uma pequena parte do trabalho das escolas, por isso, refletem isso mesmo: uma visão parcial, simplista e redutora e que traz para a educação a lógica competitiva dos mercados que favorece as escolas privadas.
Ainda assim, o Partido Socialista quis debater os resultados dos exames nacionais nos Açores no Parlamento Regional e caiu na armadilha dos rankings. Ao mesmo tempo que criticava os exames e a elaboração de rankings de escolas, o PS e o Governo Regional quiseram valorizar pequena evolução das escolas dos Açores, no que diz respeito às notas dos exames nacionais, o que constitui uma contradição insanável: não se pode discutir alguma coisa, ao mesmo tempo que se diz que é um não assunto.
Mas foi isso que aconteceu, o que é revelador da visão da escola que tem o PS/Açores e o Governo Regional, que afinou pelo mesmo diapasão: consideram os exames e os rankings importantes.
É preciso focar o debate sobre a educação no que é mais importante. Nos Açores, pela primeira vez desde 2013, o abandono precoce voltou a subir, e subiu quase um ponto percentual – de 26,9% para 27,8% – e em 2016 apenas 45,6% dos jovens com 15 anos de idade se encontravam no ensino secundário. São números desastrosos.
No que diz respeito à estabilidade docente e continuidade pedagógica, as condições que são dadas às nossas escolas constituem os maiores níveis de precariedade docente do país: cerca de 18% dos professores são contratados e as escolas só funcionam com o recurso a centenas de desempregados em programas ocupacionais de emprego: sem eles as escolas fechavam, mas de 6 em 6 meses são mandados embora.
Até ao nível das infraestruturas continuamos mal: há escolas, ainda em 2018, com graves problemas de sobrelotação, com quase mais do dobro dos alunos que deveriam ter. Aulas em refeitórios, aulas de apoio em salas sem janelas, aulas no auditório. Tudo isto na única escola secundária do concelho mais jovem do país, a Ribeira Grande. E a solução do governo? Esperar que a natalidade desça!
Discutir rankings e notas de exames sem olhar para o contexto é ignorar todos os que ficaram para trás para apenas discutir os resultados daqueles alunos que chegaram ao exame. O debate estéril dos números dos exames e dos rankings só serve para ofuscar a realidade.