Os orçamentos também são para Trump


Os EUA exigem dos países membros da NATO o aumento dos gastos com a defesa. Não foi Trump que iniciou a exigência de maiores contribuições para a Aliança Atlântica, já Obama o fazia. No entanto, foi Trump que inaugurou um novo estádio dessa exigência, chegando a ameaçar deixar a NATO se os países europeus não cumprissem as metas que definiu.

Mas o que significa esse aumento da despesa com a defesa? Atualmente, e segundo cálculos da própria NATO, Portugal gastou em defesa, em 2017, 1,24% do PIB, o que representa 2,4 mil milhões de euros. Estima-se que, para atingir a meta de 2% do PIB em 2024, Portugal reserve para a defesa mais de 4 mil milhões de euros por ano.

E será que Portugal é dos países que menos gastam em defesa em termos relativos? Nem por sombras! Gastamos mais do que, por exemplo, o Canadá, a Alemanha ou a vizinha Espanha! Mas não chega, o que os EUA, Trump e a NATO querem são os 2%, para não falar das mirabolantes ameaças de Trump, que exigiu aos países membros que atingissem os 4% do PIB. Perante esta ameaça de Trump, a meta dos 2% até parece simpática, não é? E Trump fica contente – por agora – pois as suas ameaças de guerra pelo twitter já contam com mais uns milhares de milhões de euros em armamento.

Curioso é que, na mesma altura que António Costa disse que não havia dinheiro para o descongelamento total das carreiras, Portugal tenha apresentado um plano para atingir as metas da NATO para despesa militar. É inacreditável que, quando se detectam tantas lacunas nos serviços públicos, o Governo se comprometa em gastar mais na defesa.

E mesmo o investimento na defesa não é todo igual. Portugal comprometeu-se com a compra de um navio abastecedor e aviões de transporte mas não é capaz de garantir uma simples segunda tripulação para a busca e salvamento no Atlântico e para as evacuações médicas nos Açores, uma das missões mais importantes da Força Aérea. Afinal, o investimento militar previsto é para quê?

Neste quadro, os EUA e Portugal parecem querer que o nosso país assuma mais responsabilidades na defesa do Atlântico, aliviando esse fardo e essa fatura aos EUA que têm outro Oceano na mira, o Pacífico. Enquadra-se nesse objetivo a criação, pelo Governo, do Centro de Segurança do Atlântico nas Lajes e a tentativa de venda a Portugal, por parte dos EUA, de fragatas obsoletas. Assim, os EUA faturam com a venda de sucatas, reduzem a despesa na vigilância do Atlântico. Os portugueses pagam a fatura e os Açores e a sua posição no Atlântico continuará a estar ao serviço dos EUA.

Entretanto, está ausente do discurso de Mário Centeno, seja enquanto Ministro das Finanças, seja enquanto presidente do Eurogrupo qualquer preocupação com o aumento da despesa com a defesa. Afinal, para Centeno, o orçamento é para todos os portugueses… e também para Trump.

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