Poderia dizer que a pandemia do novo coronavírus deve mobilizar-nos a todos no seu combate, mas esse é um apelo a algo que já está a acontecer. É claríssima a preocupação das pessoas com a pandemia e é ainda mais notório o cumprimento generalizado das recomendações das autoridades de saúde. Essa é uma demonstração da responsabilidade e da maturidade da população, mas também da sua solidariedade.
Mas há quem não possa ficar em casa e deixar de trabalhar, nem fazê-lo por via de teletrabalho. A começar pelos profissionais de saúde, na linha da frente desse combate, mas também todos aqueles trabalhadores e trabalhadoras de tantos setores essenciais que diariamente mantêm os alimentos nos supermercados, os medicamentos nas farmácias, o fornecimento de energia elétrica, o abastecimento de água e a recolha do lixo nas nossas casas, entre tantos outros setores essenciais. Todos eles, que não podem de forma alguma deixar de trabalhar e que por isso correm mais riscos, merecem o nosso obrigado e solidariedade. Para que a vida continue com a normalidade possível é preciso protegê-los e garantir os seus direitos e segurança.
Devemos-lhes o nosso obrigado, mas acima de tudo a solidariedade ativa de todas e de todos. É preciso garantir que desempenham as suas profissões em segurança absoluta, com direitos fortes e salários decentes e valorizados.
Têm sido tomadas várias medidas, em crescendo, para conter o alastrar do vírus. É preciso ter confiança e esperança de que elas surtirão efeito. Nesta matéria devemos seguir de forma responsável e ponderada as melhores recomendações dos especialistas em saúde pública.
No entanto, não vale a pena pensarmos que todas as medidas em prática resolverão o problema em dias ou poucas semanas. Já todos percebemos que a pandemia se prolongará por um tempo longo. Estes tempos serão também uma prova de resistência, numa altura em que as restrições são muitas.
O tempo levará também a que a economia, o emprego e todo o tecido económico sejam profundamente afetados. Não podemos esperar menos do que isso. Neste momento é preciso que tudo o que seja feito para atenuar o impacto da pandemia no emprego e na economia.
No dia seguinte após ganharmos esta guerra – que vamos ganhar sem margem para dúvida – será preciso reconstruir a nossa economia de modo a que, depois da crise de saúde pública, não se junte uma prolongada crise social e económica.
Mas para evitar essa crise, não tenho dúvidas de que a resposta dada à crise de 2008 não servirá. A resposta não poderá ser a austeridade e a obsessão com as contas públicas. A preocupação tem de estar nas pessoas. A recuperação da economia não pode ser feita com as mesmas medidas de sempre, com mais uns pózinhos. Serão necessárias políticas públicas contra-cíclicas, com fortíssimo investimento público e criação de emprego. Tudo o que as instituições europeias têm recusado nos últimos anos.
No imediato todas as nossas forças têm de estar na guerra à pandemia. Depois da vitória não podemos descansar, teremos de reerguer a economia.