Juntar forças


As eleições do passado dia 30 de janeiro resultaram numa maioria absoluta do Partido Socialista que deixa António Costa e os militantes socialistas muito satisfeitos, como é natural. Mas não são os únicos. Outros manifestam entusiasticamente a sua satisfação, deixando antever muito do que será o futuro próximo.

As confederações patronais vieram logo aplaudir, dizendo que agora podem avançar medidas como a redução da taxa social única paga pelas empresas para compensar a subida do salário mínimo. Aplaudem o facto de o PS estar agora livre das garras da geringonça, podendo assim dar “incentivos fiscais” (leia-se borlas fiscais) às empresas.

As agências de rating juntam-se à festa e celebram o facto de as alterações à legislação laboral exigidas pelos partidos de esquerda deixarem de estar em cima da mesa. Sempre o trabalho e os trabalhadores, que são vistos, pelo capital financeiro, como o grande empecilho ao desenvolvimento.

Os que celebram mais euforicamente a maioria absoluta do PS (para além dos seus próprios militantes e simpatizantes) são os patrões e as agências ao serviço dos interesses do setor financeiro, o que revela bem a quem esta melhor serve e os interesses e lobbies que pressionaram o poder absoluto do PS.

Nestas eleições ganhou o medo em detrimento da esperança que significaria o aprofundamento de um caminho que colocasse como política central o reforço dos serviços públicos, como a saúde, o reforço dos direitos do trabalho e direitos sociais e uma resposta convicta e justa à crise climática.

Uma grande parte do povo de esquerda deste país terá visto no voto no PS a mais eficaz barreira contra o regresso da direita ao poder, com a influência da extrema-direita, preferindo por isso o mal menor.

O regresso da direita, que nunca foi verdadeiramente provável, foi plantado na imaginação dos portugueses pelas sondagens, que cada vez mais são fatores de influência eleitoral e por isso no futuro do país, e pela indisponibilidade do PS em voltar a falar com a esquerda.

A concentração do voto no PS levou consequentemente ao esvaziamento do voto nos partidos à sua esquerda, penalizando fortemente o Bloco.

Teremos assim uma maioria absoluta em que o PS fará o que entender e seremos todos recordados do que significam maiorias absolutas e como o PS governa quando as tem.

A decisão do Bloco em votar contra o orçamento do estado para 2022 (e para 2021) foi correta. Participei dessa decisão com o meu voto no órgão nacional do Bloco que a ratificou. Esta foi uma decisão coletiva, por isso desenganem-se aqueles que pensam que rolam cabeças num partido com as origens do Bloco.

Decidiria do mesmo modo hoje, sabendo o que sei. Porque um partido que quer construir uma alternativa de esquerda para o país não pode abdicar de todo o seu programa e dos seus princípios e do que considera melhor para o país, cedendo à chantagem que exigia que aprovasse um orçamento que em nada refletia as suas prioridades, apenas para não ter potenciais perdas eleitorais.

Não obstante, como acontece com todas as decisões marcantes e suas consequências, os últimos seis anos e o ocaso da geringonça exigem uma serena reflexão de toda a esquerda, incluindo no Bloco de Esquerda.

Desse debate, estou certo, o Bloco sairá mais forte e juntará forças.